Para que serve o conhecimento?

30-10-2017

Por: Sónia Machado

Quando falamos de conhecimento, estamos a falar de quê? Grosso modo, quem busca o conhecimento procura a certeza de alguma coisa. Tenta simultaneamente colmatar um tipo de angústia que a incerteza lhe causa, e realizar o prazer de progredir numa descoberta.

Conhecer é pois uma tentativa de encontrar a verdade, é tentar aproximar o mais possível a coisa (que se quer conhecer), da ideia que se construiu nas perguntas acerca dela. Este é um ato que realizamos desde que nascemos, em maior ou menor profundidade, de acordo com o nosso grau de desenvolvimento, mas que por não ser encarado de modo suficientemente sério desde cedo, não lhe é permitido concretizar plenamente as possibilidades da sua função pedagógica.

O ato de conhecer conduz ao confronto com uma quantidade por vezes significativa, de intranquilidade, ou com aquilo a que podemos chamar de frustração. A frustração é a reação psicológica (emocional, cognitiva e comportamental) à não-realização das expectativas ou dos objetivos pessoais, no tempo desejado.

Isto recorda-me um episódio recente que se passou comigo e com a minha filha, que tem 9 anos, quando esta fazia os seus TPC de Matemática. Em determinado momento, surgiu-lhe uma dúvida num dos exercícios e, então, veio ter comigo e pediu-me ajuda. Eu expliquei-lhe o dito exercício, como sabia e, aparentemente, chegámos a uma conclusão diferente da proposta pela sua professora. Ora, esta situação levou a que a criança experienciasse um verdadeiro conflito: "Agora, eu  não sei em quem hei-de acreditar" (sic). E esta experiência, por si mesma, no momento, levou-a a sentir-se frustrada - com direito a choro e a receio de incapacidade de realização - porque não conseguia escolher o caminho da resolução correta do exercício, tal como ela desejava, para o entregar no dia seguinte na escola.

Foi então que falámos sobre a beleza da objetividade do conhecimento, pois que, este quando produzido objetivamente será independente de quem o produz. E se ela (criança) possuía os dados, se entendia o enunciado, e se as premissas deste eram verdadeiras, então ela mesma através do seu próprio raciocínio chegaria à conclusão correta.

É exatamente para isto que o conhecimento serve, para assegurar a autonomia e a independência. Mas o conhecimento não é tão somente o resultado final - que pode até ser memorizado muitas vezes - mas todo o processo realizado até o alcançar, através do qual se aprende a perseverança, a paciência, e a aumentar o nível de tolerância à frustração, enfrentando com o seu próprio raciocínio as adversidades e contraposições à sua existência intelectual, obrigando-se a reconstruir-se e a ser com certeza. E com certeza, quem se coloca perante o infinito é um ser de coragem, independentemente da sua idade.