Não somos todos psicólogos

15-02-2018

Por: Sónia Machado

Algumas vezes as pessoas perguntam-me: "Porquê ir à/o psicóloga/o quando se tem amigas/os? Só as pessoas que não têm alguém com quem falar é que vão à/o psicóloga/o, não é?" Não, não é. E mais do que uma vez, já me disseram: "As pessoas gostam muito de falar comigo, dizem-me que eu falo muito bem e que se sentem bem quando conversam comigo, acho que somos todos um bocadinho psicólogas/os." Não, não somos.

Não quero com isto dizer que a amizade não faz maravilhas, sem dúvida que faz, e considero que as pessoas têm efetivamente uma função terapêutica quando se relacionam autenticamente com as outras. Mas a música também desempenha perfeitamente uma função terapêutica, talvez tanto como outra atividade artística, ou ainda uma atividade desportiva, e estas não são um bocadinho de psicologia. Eu também sei nomear o sistema digestivo, e o respiratório, ou o circulatório, sei ver quando uma pessoa está com febre ou em sofrimento físico, mas nem por isso sou um bocadinho médica.

Conversar com as/os amigas/os ajuda, temporariamente, apazigua a solidão no sofrimento e traz alguma esperança. Mas a/o psicóloga/o é uma pessoa que estudou durante anos os processos de desenvolvimento humano, que aprendeu os modos de construção dos pensamentos e das emoções desde a infância, e as suas alterações, que treinou várias técnicas de intervenção em contextos diversos, com base em abordagens específicas, que coloca em prática diariamente as competências que adquiriu para escutar e entender a dor mental, inevitável na existência humana, e ajudar a minimizá-la, sem julgamentos ou juízos de valor.

Quem quer sentir-se bem, fala com as/os amigas/os. Quem quer evoluir fala também com as/os psicólogas/os. Sentir-se bem não é um objetivo, é um efeito deste processo.